Já no século XX, encontramos outro grande missionário italiano que carismaticamente conquistaria multidões de fiéis por todo nordeste brasileiro. Trata-se de Frei Damião de Bozzano, vindo para o convento da Penha em 1931, Recife, onde iniciaria um incansável trabalho missionário. O exímio pregador se tornaria venerado em inúmeras peregrinações onde destacava a importância da luta contra tudo aquilo que afastasse os fiéis da igreja. O frade capuchinho revigoraria o sentimento religioso disseminado pelos seus primeiros irmãos de ordem que em Bom Jardim estiveram de 1874 a 1876, sempre acompanhado pelo seu devotado amigo Frei Fernando, juntos alcançaram um grande prestígio e admiração de toda população. A figura de Frei Damião representava para a mentalidade popular a solução permanente das enfermidades e o auxílio aos mais necessitados. Esses fatores contribuíam para as mais diversas reações, multidões se deslocavam de suas respectivas localidades para contemplá-lo, junto aos bonjardinenses aglomerados nas estreitas vielas da cidade. O cotidiano se transforma novamente, inerente ao embalo das regressas missões.
“De um a oito de maio de mil novecentos e setenta e dois, a Paróquia de Sant’Ana de Bom Jardim recebeu com grande júbilo e grande honra em sua sede, o grande e virtuoso missionário do nordeste brasileiro, Frei Damião. Foi o maior acontecimento na história sócio-religiosa de Bom Jardim. Nunca se viu tanta gente e tanto movimento. Veio gente de Paulo Afonso, de Caruaru, de Recife, até de São Paulo, sem contar representantes das paróquias vizinhas. Bom Jardim nunca tinha presenciado igual espetáculo nos anais de sua história. A chegada de Frei Damião, vindo de João Alfredo, foi uma apoteose. Uns duzentos carros acompanhavam o missionário do ponto de partida até a cidade de Bom Jardim. Impressionante foi a benção dos carros, a cidade não comportou nas ruas e nas praças o número de carros. Foram contados 626 automóveis. O povo delirou de entusiasmo até às lagrimas, como também na benção no dia do encerramento. Comungaram mais de 10.000 pessoas. Só Frei Damião pode arrastar tanta gente.” (LIVRO DE TOMBO)
“De um a oito de maio de mil novecentos e setenta e dois, a Paróquia de Sant’Ana de Bom Jardim recebeu com grande júbilo e grande honra em sua sede, o grande e virtuoso missionário do nordeste brasileiro, Frei Damião. Foi o maior acontecimento na história sócio-religiosa de Bom Jardim. Nunca se viu tanta gente e tanto movimento. Veio gente de Paulo Afonso, de Caruaru, de Recife, até de São Paulo, sem contar representantes das paróquias vizinhas. Bom Jardim nunca tinha presenciado igual espetáculo nos anais de sua história. A chegada de Frei Damião, vindo de João Alfredo, foi uma apoteose. Uns duzentos carros acompanhavam o missionário do ponto de partida até a cidade de Bom Jardim. Impressionante foi a benção dos carros, a cidade não comportou nas ruas e nas praças o número de carros. Foram contados 626 automóveis. O povo delirou de entusiasmo até às lagrimas, como também na benção no dia do encerramento. Comungaram mais de 10.000 pessoas. Só Frei Damião pode arrastar tanta gente.” (LIVRO DE TOMBO)
Para compreender melhor estas reações populares, o sentido que resultava em tamanha admiração é que, Frei Damião, se tornaria o novo substrato religioso devido à morte do Padre Cícero Romão Batista, o até então “messias” do povo nordestino. O fato é que o capuchinho italiano seria o sucessor das providências, capaz de realizar milagres e proclamar conselhos durante suas peregrinações.
Gigantescas manifestações populares acompanhavam seus trajetos, alegando está diante de um legitimo santo, que cativava e prezava pela conduta social baseada na fé. Sua marca registrada era a proximidade com o povo, isso fez de suas missões verdadeiros atos festivos, que modificavam o cotidiano social. O povo se trajava especialmente para a ocasião, pequenos comércios eram revitalizados, ambulantes que comercializavam artigos religiosos eram atraídos visando lucrar com a ocasião, tudo aquilo que ainda se perpetua nas tradicionais festividades religiosas dos municípios interioranos.
As missões capuchinhas também eram algo que proporcionava evidentes ganhos espirituais e materiais para a população, os milagres eram fatos constatados pelas testemunhas que presenciavam fervorosamente suas visitas pastorais. Na perspectiva antropológica as manifestações humanas decorrentes dos atos religiosos visam à transcendência, que transpõe o aparente, encontrando soluções pelo simples ato da convicção do crer. E esse sentido tem sido cada vez mais dissoluto com o avanço da modernidade racionalista.
O caráter “transcendente” foi algo vivenciado nas missões de Frei Damião em Bom Jardim, o princípio da fé conduzia um grande número de fiéis até o religioso, atraídos pela sua fama de operar milagres físicos e até no domínio de fenômenos naturais. O padre e sociólogo Francisco de Assis Magalhães Rocha descreve um milagre de caráter natural ocorrido no município, partindo do depoimento de um agricultor que testemunhou o fato.
“No momento em que a multidão se dirigia à estação para se despedir do frade, houve ventos e chuvas muito fortes. Na ocasião, o capuchinho teria recomendado em alta voz que ninguém saísse para não se molhar e adoecer. Então teria feito um gesto com as mãos, para que o vento e a chuva mudassem de rota.”
Muitos cidadãos atribuem milagres inexplicáveis ao missionário, inclusive a cura de uma mulher que aparentemente padecia de transtorno mental, “teria ele colocado as mãos sobre sua cabeça e recomendado seu retorno para casa plenamente restabelecida.”.
A segurança religiosa que o capuchinho transmitia, era resultado de uma rígida formação conservadora, despertava o ardor fervoroso dos fiéis adeptos do tradicionalismo, buscando preservar a igreja anterior ao Concílio Vaticano II que introduziu mudanças divergentes ao conservadorismo católico.
As pregações a moda antiga de Frei Damião causava inquietude entre os bonjardinenses, resultado de um método pautado nos princípios teológicos do Concílio de Trento, que estima pelos valores da fé e disciplina da igreja. Em suas visitas ao município, aproximou o povo de uma vivência qualitativamente sacramental: casamentos, confissões, distribuição de comunhão, batizados, pregações, missas e conversões, proporcionavam um intenso movimento espiritual entre os habitantes sensibilizados pela intensidade do espírito religioso das santas missões. O fascínio pelas suas ações pastorais está presente nos diversos depoimentos populares, até mesmo quando a graça não se alcançava.
“Levei minha filha enferma até Frei Damião quando se encontrava pregando em Bom Jardim, para que ele pudesse abençoá-la com vosso divino poder, derramando graças. Mas não foi possível que ela restabelecesse sua saúde, chegando a falecer. Encontro-me conformada, Deus levou minha filha e a mesma foi abençoada pelo divino Frei Damião.” (JANE DA COSTA ARRUDA)
A idolatria dos fiéis sempre foi algo insistentemente polêmico, porém o frade elucidava que todos os aparentes benefícios era resultado da fé pessoal, do crer em Deus. E complementa dizendo que “os milagres só chegam para aqueles que tem fé. Não há milagres para quem não acredita no Senhor.”. O frade era suficientemente realista nesse critério, exortava qualquer tipo de fanatismo atrelado a sua pessoalidade evangelizadora.
Trechos do Artigo: “Santas Missões: A Obra Missionária dos Capuchinhos em Bom Jardim Pernambuco.” Autoria: Bruno Barbosa de Araújo
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