Nas suas aparições em Lourdes, na França, Nossa Senhora quis confirmar de forma prodigiosa a proclamação do dogma da Imaculada Conceição e também deixar a nós ensinamentos e mensagens preciosíssimos. Em 1858, ainda não havia passado quatro anos da proclamação do Dogma quando a Virgem Maria se revelou – com semblante juvenil e inocente, vestida de branco e cingida com uma faixa azul – a uma inocente e simples menina, na gruta de Massabielle. Santa Bernadette Soubirous, a única vidente, presenciou várias de suas aparições e insistentemente perguntava o seu nome, até que, levantando os olhos ao céu e com um suave sorriso, a Virgem de Lourdes responde: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
Fiéis de todas as partes do mundo até hoje fazem peregrinações à gruta de Massabielle, e lá reavivam a sua fé, intensificam a sua piedade e procuram conformar sua vida com os preceitos cristãos. Em Lourdes, milhares de fiéis alcançaram, e continuam alcançando, milagres que suscitaram a admiração de todos e confirmaram a religião católica como a única aprovada por Deus. Além disso, em suas aparições em Lourdes, Nossa Senhora deixou-nos lições espirituais, caminhos a seguir e um convite especial a todos nós, seus filhos.
As lições espirituais das Aparições de Lourdes
Os ensinamentos que nos foram transmitidos em Lourdes, que são eco fiel da mensagem do Evangelho, evidenciam de maneira impressionante o contraste que opõe os juízos de Deus à vã sabedoria deste mundo. Numa sociedade na qual não há muita consciência dos males que a prejudicam e que, ao contrário, consideram as suas misérias e as suas injustiças como sinais de modernidade e prosperidade, a Virgem Santíssima manifesta-se à uma menina pura, inocente. “Com compaixão maternal percorre com o olhar este mundo redimido pelo sangue de seu Filho, onde, infelizmente, o pecado faz cada dia tantas devastações, e por três vezes lança o seu apelo premente: ‘Penitência, penitência, penitência!’”.
Nossa Senhora pediu a Santa Bernadette gestos estranhos e, ao mesmo tempo, expressivos, que nos ajudam a compreender quem são os destinatários das aparições: “‘Ide beijar a terra em penitência pelos pecadores”. E ao gesto há que juntar a súplica: ‘Rogareis a Deus pelos pecadores’”. Tal como no tempo de São João Batista e no início da vida pública de Jesus, a mesma ordem, forte e rigorosa, dita aos homens aponta para o caminho do retorno a Deus: “Arrependei-vos” (Mt 3, 2; 4, 17). Quem de nós ousaria dizer que esse apelo à conversão do coração perdeu, nos nossos dias, a sua atualidade? Ao contrário, mais do que em outros tempos, hoje necessitamos nos voltar para Deus.
Em Lourdes, a Virgem Mãe de Deus vem a nós como mensageira do perdão e da esperança. A água que jorra até hoje no local das aparições nos recorda essa realidade: “Ó vós todos que tendes sede, vinde às águas e recebereis do Senhor a salvação”. Nessa fonte, na qual Santa Bernardete foi a primeira a beber e lavar-se, milhares e milhares de pessoas foram curadas de todas as misérias da alma e do corpo. “Lá fui, lavei-me e vi” (Jo 9, 11), poderá responder, como o cego do Evangelho, o peregrino agradecido. Mas, tal como para as multidões que se comprimiam em volta de Jesus, a cura das chagas físicas ali realizadas são um gesto de misericórdia e, ao mesmo tempo, o sinal do poder que tem o Filho do Homem de perdoar os pecados (cf. Mc 2, 10). Junto à gruta de Lourdes, a Santíssima Virgem nos convida, em nome de seu divino Filho, à conversão do coração e à esperança do perdão.
As aparições de Lourdes e o caminho indicado por Nossa Senhora
O mundo de hoje nos oferece alegria, esperança, prosperidade, mas também nos coloca diante da terrível tentação do materialismo. Este não está somente na filosofia condenada que preside a política e a economia de grande parte da humanidade. Esse materialismo se manifesta no amor do dinheiro, cujos males aumentam à medida dos modernos empreendimentos, que infelizmente comandam tantas determinações que pesam sobre a vida dos indivíduos e a sociedade.
O materialismo traduz-se no culto do corpo, na busca excessiva do conforto e na fuga de toda austeridade de vida. Além disso, ele induz ao desprezo da vida humana, que é destruída antes de ver a luz, através do aborto e de tantos outros métodos contraceptivos abortivos, como os anticoncepcionais, a pílula do dia seguinte, o DIU. Tudo isso é consequência da demanda desenfreada do prazer, que se ostenta sem pudor à luz do dia e tenta seduzir até mesmo as almas ainda puras. O materialismo está igualmente na indiferença para com nosso irmão, no egoísmo que o esmaga, na injustiça que o priva dos seus direitos, nessa concepção de vida que tudo regula em vista somente da prosperidade material e das satisfações terrenas. “Minha alma, dizia um rico, tens quantidade de bens em reserva por longo tempo; repousa, come, bebe, leva vida regalada. Mas Deus lhe diz: Insensato, esta noite mesmo vão te pedir a tua alma” (cf. Lc 12, 19-20).
Em Lourdes, a Virgem Maria alerta nossa sociedade que, não raras vezes, contesta os direitos supremos de Deus e que, dessa forma, corre freneticamente rumo à própria destruição. Pois, não há renovação durável que não seja fundada nos princípios indestrutíveis da fé, e pertence aos sacerdotes formar a consciência do novo povo de Deus. “Assim como, compassiva para com as nossas misérias, mas clarividente sobre as nossas verdadeiras necessidades, a Imaculada vem aos homens para lhes lembrar as diligências essenciais e austeras da conversão religiosa, devem os ministros de Deus, com sobrenatural segurança, traçar às almas a estrada estreita que conduz à vida (cf. Mt 7, 14)”. Os sacerdotes deverão fazê-lo sem esquecer de que espírito de doçura e de paciência necessitam (cf. Lc 9, 55), mas sem nada retirar das exigências evangélicas. “Na escola de Maria aprenderão a só viver para dar Cristo ao mundo, mas, se também preciso, aprenderão a esperar com fé a hora de Jesus e a permanecer ao pé da cruz”.
Em torno dos nossos sacerdotes, devemos colaborar nesse esforço de renovação. Onde a Providência nos colocou, quem é que não pode fazer algo mais pela causa de Deus? A esse respeito, diz o venerável Papa Pio XII:
"O nosso pensamento volve-se primeiro para a multidão das almas consagradas, que, na Igreja, se dedicam a inúmeras obras de bem. Os seus votos de religião aplicam-nas mais do que outras a lutar vitoriosamente, sob a égide de Maria, contra o desencadear, no mundo, dos apetites imoderados de independência, de riqueza e de gozo; por isso, ante o apelo da Imaculada, ao assalto do mal quererão elas opor-se pelas armas da oração e da penitência e pelas vitórias da caridade. O nosso pensamento volve-se igualmente para as famílias cristãs, para conjurá-las a permanecerem fiéis à sua insubstituível missão na sociedade. Consagrem-se elas, neste ano jubilar, ao coração imaculado de Maria! Este ato de piedade será para os esposos um auxílio espiritual precioso na prática dos deveres da castidade e da fidelidade conjugais; conservará na sua pureza o ambiente do lar, onde crescem os filhos; bem mais, da família vivificada pela sua devoção mariana, fará uma célula viva da regeneração social e da penetração apostólica. E certamente, para além do círculo familiar, as relações profissionais e cívicas oferecem aos cristãos cuidadosos de trabalhar na renovação da sociedade um campo de ação considerável. Congregados aos pés da Virgem, dóceis às suas exortações, eles lançarão primeiro sobre si mesmos um olhar exigente, e quererão extirpar da sua consciência os juízos falsos e as reações egoístas, temendo a mentira de um amor de Deus que não se traduza em amor efetivo de seus irmãos (cf.1 Jo 4, 20). Cristãos de todas as classes e de todas as nações, procurarão encontrar-se na verdade e na caridade, banir as incompreensões e as suspeitas. Sem dúvida, enorme é o peso das estruturas sociais e das pressões econômicas que se faz sentir sobre a boa vontade dos homens e que não raro a paralisa. Mas, se, como nossos predecessores e nós mesmo com insistência o frisamos, é verdade que a questão da paz social e política é, no homem, primeiramente uma questão moral, reforma nenhuma é frutuosa, acordo algum é estável, sem uma mudança e uma purificação dos corações. Lembra-o a todos a Virgem de Lourdes neste ano jubilar!".
As aparições de Lourdes e o convite a nos voltar para a Virgem Maria
Ao aparecer à pobre e humilde Bernadette, Maria Santíssima demonstra a sua predileção sobre alguns de seus filhos: os pequenos, os pobres, os doentes, que Jesus tanto amou. “Vinde a mim vós todos que estais cansados e onerados, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28), parece dizer a Mãe de Deus com seu Filho.
“Querereis ter a bondade de vir…”, disse a Virgem de Lourdes a Bernadette. Esse convite discreto, que não força, que se dirige ao coração e solicita com delicadeza uma resposta livre e generosa, propõe novamente a Mãe de Deus a nós, seus filhos dispersos por todo o mundo. Sem se impor, ela nos chama a restaurar as nossas vidas e a trabalhar com todas as nossas forças na salvação do mundo. Não fiquemos indiferentes a esse apelo, mas vamos a Maria, conforme o conselho de São Bernardo:
"Nos perigos, nas angústias, nas incertezas pensa em Maria, invoca Maria. Que ela nunca abandone os teus lábios, nem o teu coração; e para obteres a ajuda de sua oração, nunca esqueças o exemplo de sua vida. Se a segues, não te podes desviar; se lhe rezas, não te podes desesperar; se pensas nela não podes errar. Se ela te ampara, não cais; se ela te protege, nada temes; se ela te guia, não te cansas; se ela te é propícia, alcançarás a meta.".
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