A Quaresma tem início com o rito da imposição das cinzas, através do qual queremos assumir o compromisso de converter o nosso coração. As cinzas significam que do pó viemos e para o pó voltaremos, sinal de penitência e de que nada somos sem Deus. São 40 dias, iniciados na quarta-feira de cinzas, como um tempo precioso de Deus, forte e rico de significados, caminho rumo à Páscoa do Senhor. Tempo oportuno para uma rica experiência espiritual, uma renovação de vida.
Deus nos convida a um arrependimento sincero: “Rasgai o coração, e nãos as vestes, e voltai para o Senhor” (Jl 2,12). Não se trata de uma conversão superficial e transitória, mas de um caminho espiritual que diz respeito às atitudes da consciência e supõe uma intenção sincera de mudança. Uma atitude de conversão autêntica a Deus. Voltemos para Deus e reconheçamos a sua santidade, o seu poder, a sua bondade. Essa conversão é possível porque Deus é rico de misericórdia. A sua misericórdia é regeneradora, gera em nós um coração puro, renova no íntimo um espírito firme, restituindo-nos à alegria da salvação (cf. Sl 50,14).
O tempo quaresmal – 40 dias durante os quais podemos experimentar de modo eficaz o amor misericordioso de Deus. Por isso, ressoa para nós o grande apelo: “Voltai para o Senhor!”. Hoje, não amanhã, somos chamados à conversão. E não podemos realizar a nossa conversão sozinhos, unicamente com as nossas forças, porque é Deus quem nos converte. Deus nos oferece o seu perdão, convidando-nos a voltar para Ele para que nos dê um coração novo, purificado do mal que o oprime, do pecado, para fazer com que participemos da sua glória. “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
O renovado apelo de Cristo à conversão continua a ecoar nas nossas vidas. A conversão é uma tarefa contínua para toda a Igreja, “que reúne em seu próprio seio os pecadores” e que “é, ao mesmo tempo, santa e sempre necessitada de purificar-se”, pois busca sem cessar a penitência, a reconciliação e a sua renovação. Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana, mas fruto da graça do amor misericordioso de Deus, que nos amou primeiro. Todos precisam da graça de Deus, que ilumina a mente e o coração; todos podem abrir-se à ação de Deus, ao seu amor. Com nossas atitudes, gestos e testemunho, devemos ser uma mensagem viva do amor de Deus. É responsabilidade nossa, um motivo a mais para viver bem a Quaresma: oferecer o testemunho da fé viva a um mundo em dificuldade que precisa voltar para Deus, que tem necessidade de conversão.
Portanto, o tempo quaresmal, por ser tempo de conversão, possibilita o caminho da verdadeira fraternidade. É necessário fazer a cada ano uma campanha para sermos mais fraternos. A Campanha da Fraternidade, neste ano 2020, tem como tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e como lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, palavras da parábola do bom samaritano (Lc 10,33s). O cartaz traz a Santa Dulce dos Pobres, a pequena e humilde baiana. O nome Dulce lembra doçura. Aquela doçura que os corações bondosos sabem espalhar na vida dos próximos, mesmo tendo uma vida marcada por sofrimentos. Como bem disse Dom Helder: “há criaturas como a cana: mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura”. A Irmã Dulce foi doçura na vida difícil imposta a tantos irmãos deixados à beira do caminho. Ela percebeu, desde cedo, que a vida só tinha sentido quando permeada de ternura. E foi o que ela fez: abraçou com ternura os pobres e excluídos.
Nesta quaresma, devemos abraçar com ternura o nosso próximo. O Papa Francisco na sua mensagem para esta quaresma diz: “O Senhor concede-nos, também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande Mistério da morte e ressurreição de Jesus, cerne da vida cristã pessoal e comunitária”. E que a Virgem Maria, nossa guia no caminho quaresmal, nos conduza a um conhecimento cada vez mais profundo de Cristo, morto e ressuscitado, nos ajude no combate espiritual contra o pecado, nos assista para acolhermos o apelo de deixarmo-nos reconciliar com Deus e nos ampare ao invocarmos em alta voz: “Converte-nos, ó Deus, nossa salvação".
Desejo a todos e todas uma santa Quaresma!
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena – Bispo de Nazaré (PE)
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