sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Manuscrito histórico sobre a origem da Tradicional Festa de São Sebastião, em Bom Jardim, por Américo Sedícias

São Sebastião

Bom Jardim, a partir de hoje, celebra a sua tradicional Festa de São Sebastião, comemorada anualmente pela Igreja Católica.


Foi o glorioso filho da cidade francesa de Narbona, martirizado em Roma, no ano de 288 da era cristã. É venerado na capela da Avenida Manoel Augusto, cujos primórdios desta homenagem datam de 1926, conforme os seguintes dados históricos: “O estio de 1925, trouxe para a população de Bom Jardim séria apreensão, em virtude dos casos de peste bubônica notificados pela saúde pública, em vários sítios do município, na sua parte Noroeste, com os limites de Orobó.”.

O espírito religioso do povo fazia-o invocar São Sebastião, considerado defensor dos cristãos, contra as epidemias. Uma capela tendo o santo como orago seria erigida se a moléstia não se propagasse à cidade. Era o conterrâneo e saudoso Napoleão Gonçalves Souto Maior, chefe de grande família e católico prático, que assim se manifestava, aliado à inesquecível e piedosa jovem Otília Engrácia de Oliveira, Filha de Maria, promotora do novenário com seus irmãos: Anísio Oliveira e José Wilson, ainda Celso Ferreira, Mariano Sabino, Abdias Cunha, Severo Farias, Joaquim Mendes, Josefa e Dina Borges, e tantos outros, pioneiros da festa ensaiada pela primeira vez a 02 de fevereiro de 1926.

Exerceram piedosa e inteligente influência, principalmente entre os seus coabitantes da cidade baixa. Houve certo desentendimento com a autoridade paroquial da época, até certa rivalidade entre os habitantes da cidade alta, não obstante foram aqueles cruzados heroicos os principais criadores das celebrações que até nossos dias continuam sob a gratidão de todo o povo da cidade e de todos os que chegam de fora, igualmente participantes dos mesmos anseios que abraçam toda a família cristã.

Segundo o manuscrito deixado por Otília Oliveira, sob a guarda do seu irmão Anísio Oliveira, ou de seu sobrinho Irineu Wilson, não foi celebrada Missa, que seria a primeira da festa, ansiosamente esperada por todos aqueles dedicados e piedosos conterrâneos, componentes da Comissão Organizadora, no entanto, realizou-se uma romaria sob cânticos sacros, até à Rua João Pessoa ou Manoel Augusto (Rua da Palha), onde ficara assinalado o lugar para a construção da capela prometida.

Mais propício foi o ano de 1927, quando houve autorização episcopal para celebrar a Missa festiva, o que não se deu em 1928, que ficou limitado ao novenário musicado e regido pelo saudoso musicista João Gercino (Janjão), nosso conterrâneo.

Em 1929, num altar erigido em frente à residência de Otília Oliveira (Tila), foi celebrada a Missa, pelo Padre Severino Mariano, atualmente Bispo da Diocese de Pesqueira.

Em 1930, ano em que recorda a segunda grande enchente do Rio Tracunhaém, fazendo ruir grande parte da Rua da Palha, já se construíra a capela de São Sebastião, havendo novenário e Missa cantada, porém na Matriz.

Em 1931, realizou-se a festa, se bem não haja menção no manuscrito de Tila Oliveira, que deixou de existir em 1933, legando a Bom Jardim, sua terra natal, o mais dignificante exemplo de católica praticante.

Convém recordar, que a imagem primeira da capela fora oferta do Sr. Artur Gonçalves Souto Maior, de saudosa memória, sendo batizada em 02 de fevereiro de 1933, ano em que foram juízes da festa o ilustre casal Severino Vieira de Miranda e sua consorte Ana Miranda.

Neste ano de 1964, os bonjardinenses assistem a 37ª comemoração festiva a São Sebastião, agora com a sua capela renovada, apresentando em toda sua contextura, não só a demonstração piedosa dos que contribuíram para o seu novo aspecto, mas, realçada pelos canteiros que a emolduram, tal qual o arrebol que se expande, iluminando as consciências e marcando ali o refúgio do bem e da verdade.

Forasteiros, amigos da cidade que vos saúda, sede bem-vindos. Estabelecei nestes dias o contato amigo com a gente da terra que há tantos anos vos acolhe com relativa hospitalidade.

Neste ambiente pródigo em relações que se alicerçam, se refazem e se renovam, sob os motivos da grande Festa, nestes últimos anos organizada sob a direção intelectual e material dos incansáveis Irineu Wilson, Milton Barros e seu irmão Rinaldo Barros, numa admirável atuação demonstrativa do querer bem a sua terra.

Encerrando este período, mencionamos o bonançoso adeus com que o passado prefeito Severino Ferreira dos Santos, coroou a sua administração embelezando a capela com a interessante pracinha que a defronta.

Américo Sedícias, Bom Jardim 1964.

Américo de Souza Sedícias, bonjardinense, filho de José Ferreira Sedícias e Lídia da Mota Silveira, nasceu no dia 30 de junho de 1894. Faleceu no dia 05 de abril de 1968, aos 74 anos. Desde bem jovem, começou a trabalhar no DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), exercendo sua função nas cidades pernambucanas de Custódia, Surubim, Vertentes e Bom Jardim. Começou como estafeta e, pelos seus próprios esforços, foi conquistando postos, até chegar à chefia da Agência Postal Telegráfica. Gostava de escrever sobre temas variados, sobretudo, de caráter regional, focalizando a terra e as necessidades do Nordeste, o trabalho e suas vinculações com a riqueza do campo. Gostava de literatura, crônicas ligeiras e dedicava-se à poesia lírica. Colaborava para o Jornal Diário de Pernambuco e a Revista Presente de Natal, além de atuar como redator do “22 de Setembro”, “Elo Bonjardinense” e o “Literário”. Participou de vários movimentos, que engrandeciam Bom Jardim. Ouvia mais e falava pouco. Tinha caráter ponderado, sensato e sincero. Autodidata, estudou até a 4ª série. De modéstia impar, se dedicava ao lar, ao trabalho e frequentava a igreja.

Produção: Pastoral da Comunicação / Colaboração: Célia Sedícias / Paróquia de Sant’Ana Bom Jardim – Pernambuco

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