"A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) espera que, da Rio+20, brote o compromisso de construção de um 'modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens e que supere a lógica utilitarista e individualista, que não submete os poderes econômicos e tecnológicos a critérios éticos'" (V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e caribenho - Documento de Aparecida n474c).
O objetivo da Conferência é a renovação do compromisso político com o
desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na
implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e
do tratamento de temas novos e emergentes.
Mensagem da CNBB sobre a Conferência Rio +20
“O Senhor Deus tomou o Homem e o colocou no jardim de Éden, para o cultivar e
guardar” (Gn 2,15).
A Conferência das Nações Unidas Rio +20, sobre o desenvolvimento sustentável,
acolhida pelo Brasil neste mês de junho, carrega consigo a irrenunciável
responsabilidade de responder aos anseios e expectativas mundiais em relação à
defesa e promoção de toda forma de vida, especialmente a humana, desde sua
concepção até seu término natural.
A crise econômica, financeira e social por que passam as grandes potências da
economia mundial, com graves consequências para as nações emergentes, emoldura a
Rio +20. Considerada, por causa de sua profundidade e alcance, como uma crise de
civilização, esta crise “interpela todos, pessoas e povos, a um profundo
discernimento dos princípios e dos valores culturais e morais que estão na base
da convivência social”. Entre suas múltiplas causas está “um liberalismo
econômico sem regras e incontrolado” (Nota do Pontifício Conselho Justiça e Paz
sobre o sistema financeiro).
É urgente repensar nossa relação com a natureza, que “nos precede, tendo-nos
sido dada por Deus como ambiente de vida” e está à nossa disposição “não como um
lixo espalhado ao acaso, mas como um dom do Criador” (Bento XVI – Caritas in
Veritate, n. 48). Se, por um lado, como nos recorda o papa Bento XVI, é “lícito
ao homem exercer um governo responsável sobre a natureza para guardá-la, fazê-la
frutificar e cultivá-la, inclusive com formas novas e tecnologias avançadas,
para que possa acolher e alimentar condignamente a população que a habita”, por
outro, é preciso que “a comunidade internacional e os diversos governos saibam
contrastar, de maneira eficaz, as modalidades de utilização do ambiente que
sejam danosas para o mesmo” (Bento XVI – Caritas in Veritate, n. 50).
Os bispos da América Latina e Caribe, reunidos em Aparecida em 2007, já
denunciavam: “com muita frequência se subordina a preservação da natureza ao
desenvolvimento econômico, com danos à biodiversidade, com o esgotamento das
reservas de água e de outros recursos naturais, com a contaminação do ar e a
mudança climática” (V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do
Caribe – Documento de Aparecida n. 66).
O cuidado com a natureza e com a vida, que nela brota e dela depende, passa pelo
reconhecimento de que é dever de todos, especialmente dos dirigentes das nações,
garantir a estas e às futuras gerações a casa comum – o Planeta Terra – livre de
toda destruição. Essa meta só se alcançará com a subordinação do desenvolvimento
econômico à justiça social, no respeito à pessoa, à natureza e aos povos. Para
tanto, é necessário que todos, especialmente os dirigentes mundiais, assumam com
coragem e determinação, o compromisso de rever caminhos e decisões que, ao longo
da história, só têm excluído e condenado os pobres à miséria e à morte. Para a
erradicação da fome e da miséria, "não se trata de diminuir o número dos
convidados para o banquete da vida, mas de aumentar a comida na mesa”, como já
nos alertou o Papa Paulo VI (cf. Homilia de João Paulo II em Puebla, 1979).
A Cúpula dos Povos, organizada pela sociedade civil e realizada
concomitantemente à Rio +20, tem a importante tarefa de reafirmar a
responsabilidade dos dirigentes das nações pelas graves consequências de uma
opção equivocada, ao subjugar o desenvolvimento econômico ao domínio do mercado
e do lucro, desconsiderando tanto a natureza quanto a vida e a cultura dos
povos.
A Igreja no Brasil, especialmente através da
Campanha da Fraternidade, tem chamado constantemente a atenção para a destruição
da natureza provocada por um desenvolvimento econômico predatório, alimentado
por um sistema produtivo e um estilo de vida consumista, muitas vezes, também
predatórios. As consequências são, dentre outras, o desmatamento, a contaminação
e escassez da água e as mudanças climáticas. Os que mais sofrem os impactos de
tudo isso são os pobres e excluídos.
É imperioso que nos eduquemos para relações novas e éticas com o meio ambiente.
Esta é uma meta imprescindível da Rio +20, que não deve desviar-se de sua real e
concreta finalidade.
A Rio +20 indica uma resposta a essas questões
com a chamada Economia verde. Se esta, em alguma medida, significa a
privatização e a mercantilização dos bens naturais, como a água, os solos, o ar,
as energias e a biodiversidade, então ela é eticamente inaceitável. Não podemos
nos contentar com uma roupagem nova para proteger o insaciável mercado, que só
tem olhos para o lucro, configurando-se como “lobo em pele de cordeiro” ao
manter inalteradas as causas estruturais da crise ambiental.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB espera que, da Rio +20, brote
o compromisso de construção de um “modelo de desenvolvimento alternativo,
integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma
autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça,
da solidariedade e do destino universal dos bens e que supere a lógica
utilitarista e individualista, que não submete os poderes econômicos e
tecnológicos a critérios éticos” (V Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano e do Caribe – Documento de Aparecida n. 474c).
Esse compromisso deve ser assumido por todos. Os cristãos, de modo especial,
movidos pela solidariedade, que gera fraternidade e comunhão, são convocados a
trabalhar pela preservação do meio ambiente e a colaborar na construção de uma
sociedade justa, ecologicamente sustentável.
Que Deus, o Criador de todas as coisas, se digne abençoar seus filhos e filhas
nesta nobre missão de “cultivar e guardar” a terra, lugar de vida para todos
(cf. Gn 2,15).
Brasília, 19 de junho de 2012
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
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