A fé é um dom de Deus (cf. Ef 2,8). É uma posse antecipada do que se espera (cf. Hb 11,1). É a vitória que vence o mundo (cf. 1 Jo 5,4).
A essência do ato de fé é a adesão da inteligência às verdades reveladas por Deus, em virtude da autoridade daquele que as revela. Não se crê porque o conteúdo da fé seja evidente, nem porque ele esteja de acordo com as aspirações e as exigências pessoas ou atuais. A razão formal da fé é o fato de ser ela revelada por Deus, e o respeito de nossa inteligência lhe é devido, porque Ele não pode nem Se enganar nem nos enganar.
A Revelação Divina nos é transmitida e claramente interpretada pelo Magistério infalível da Igreja, ao qual devemos um assentimento humilde e filial, seja quando se exprime em sua forma extraordinária, seja em sua forma ordinária. Não é possível que a Igreja se tenha enganado, ensinando durante séculos uma verdade ou condenando durante séculos um erro. Devido a sua origem divina, a fé alcança uma certeza que o conhecimento humano mais evidente não pode atingir (uma certeza, nós repetimos, devida Àquele que revela, e não à evidência intrínseca daquilo que é revelado). Sempre por causa dessa origem divina, quem quer que negue um só artigo de fé corta a fé pela base, como explica o Doutor Angélico Santo Tomás de Aquino com clareza: “aquele que não adere como a uma regra infalível e divina, ao ensinamento da Igreja, [...] não tem o habitus da fé. Se ele admite verdades de fé, é por outra razão diferente da verdadeira fé. [...] Fica claro também que quem adere ao ensinamento da Igreja como a uma regra infalível, dá seu assentimento a tudo que a Igreja ensina. Caso contrário, se ele admite somente o que quer, e não admite o que não quer a partir desse momento ele não adere mais ao ensinamento da Igreja como a uma regra infalível, mas adere à sua vontade própria” (1).
Ora, é claro que, por causa da natureza estável da verdade e daquele que revela ninguém, nem no seio da Igreja nem fora dela, jamais poderá se outorgar o poder de ensinar alguma coisa diferente ou oposta ao que a Igreja recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo e transmitiu ao longo dos séculos.
São Vicente de Lérins respondia assim aos que temiam que isso impedisse o processo na Igreja: “Não haverá jamais nenhum progresso na religião e, portanto na Igreja de Cristo? Certamente, haverá um progresso, e até um progresso considerável! [...] Mas com a condição de que se trate de um verdadeiro progresso para a fé, e não de uma mudança: há um progresso quando uma realidade cresce permanecendo idêntica a si mesma. Há mudança quando uma coisa se transforma em outra” (2).
Declara o gênio teológico do século XXI Papa emérito Bento XVI: “Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente etiquetado como fundamentalista. Enquanto que o relativismo, isto é, o fato de se deixar levar “aqui e ali por qualquer vento de doutrina”, aparece como o único comportamento à altura dos tempos atuais. Está se construindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como última referência o “eu” e os desejos pessoais” (L’Osservatore Romano, 19 de abril de 2005). Em face disso, é necessário meditar mais uma vez, palavra por palavra, o que São Vicente de Lérins exprimiu com espantosa atualidade: “Se começamos a misturar o novo com o antigo, o que é estranho com o que é familiar, o profano com o sagrado, essa desordem rapidamente se espalhará por toda parte, e nada na Igreja ficará intacto, sem mancha, e onde se erigia o santuário da verdade pura e intacta, haverá um lupanar de erros sacrílegos e vergonhosos [...]. A Igreja de Cristo, guardiã vigilante e prudente dos dogmas que lhe foram confiados, nunca modifica nada neles, não lhes acrescenta nada, nada lhes retira: ela não rejeita o que é necessário, nem acrescenta o que é supérfluo; ela não deixa que lhe roubem o que só a ela pertence, ela não se apropria do que pertence aos outros [...]. Eis o que a Igreja sempre fez por meio dos decretos conciliares, sendo movida (a redigi-los) pelas inovações dos heréticos. Ela sempre transmitiu à posteridade em documentos escritos o que ela tinha recebido dos padres pela tradição, resumindo em fórmulas breves uma grande quantidade de noções e, mais frequentemente, especificando com termos novos e apropriados uma doutrina antiga, para que ela fosse melhor compreendida”. (3).
“Este é o rico tesouro do continente Latino-Americano; este é seu patrimônio mais valioso: a fé em Deus Amor, que revelou seu rosto em Jesus Cristo. Vós acreditais no Deus Amor: esta é vossa força que vence o mundo, a alegria que nada nem ninguém vos poderá arrebatar, a paz que Cristo conquistou para vós com sua Cruz! Esta é a fé que fez da América - Latina o “Continente da Esperança”. Não é uma ideologia política, nem um movimento social, como tampouco um sistema econômico; é a fé em Deus Amor, encarnado, morto e ressuscitado em Jesus Cristo, o autêntico fundamento desta esperança que produziu frutos tão magníficos desde a primeira evangelização até hoje”. (Homilia de Bento XVI na missa de abertura da Conferência de Aparecida. No Santuário de Nossa Senhora Aparecida, Brasil, domingo, 13 de maio de 2007).
Toda nossa existência e a nossa abissal certeza de vida eterna se encontra em Cristo, Ele é o autor e realizador da nossa fé (cf. Hb 12,2). A nossa segurança de vida cristã está no fundamento da fé da Igreja. Vivemos a nossa fé para promoção da vida e de toda a sua plenitude.
Padre Inácio José do Vale - Canção Nova Formação / Pastoral da Comunicação da Paróquia de Sant'Ana - http://matrizdesantana.blogspot.com.br/
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