Foi em 1705 que os primeiros missionários capuchinhos de origem italiana se estabeleceram no Recife, no encargo de realizar missões por todo nordeste brasileiro. Dentre eles se destaca Frei Cassiano de Comacchio, um religioso de suma importância para as missões do século XIX, responsável pelo primeiro contato franciscano em Bom Jardim, que resultou na ampliação da igreja matriz e na realização de diversos projetos de caráter evangelizador.
Trechos do Jornal Diário de Pernambuco nos fazem comprovar tamanho prestígio de Frei Cassiano de Comacchio em suas expedições missionárias. É sumamente inquestionável a proporção das missões lideradas pelo estimado religioso, o número de pessoas que se faziam presentes, atraídas pelo ministério religioso e pelos benefícios materiais.
“Encaminham-se os povos circunvizinhos, atraídos a tão desusado e religioso movimento pela Santa Missão. A convite de algumas pessoas para ali se dirigiu o infatigável Frei Cassiano de Comacchio, um dos religiosos capuchinhos que tanto têm feito a esta Província e ao País. É a primeira vez que a voz de um Ministro do senhor faz-se ouvir naquelas paragens, despertando àqueles agrestes povos de seus pobres casebres, para em número de mais de seis mil pessoas afluírem para ouvirem a palavra do Ministro do Senhor. Muitas vezes jorros de ferventes lágrimas do auditório, filhas da compunção e arrependimento, interrompem o Orador sagrado em suas práticas espirituais.” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1881)
Chegava ao município algo que resultaria em inúmeras benfeitorias, oriundos da cúpula eclesiástica que chefiava o catolicismo bonjardinense. Na ocasião, o Padre Fabrício do Amaral na incumbência da paróquia recebe o auxílio da obra missionária dos capuchinhos, liderada pelo Frei Cassiano de Comacchio.
A comitiva de religiosos junto ao Frei Cassiano foi enviada no intuito de auxiliar nas atividades paroquiais, no ensejo houve a proposta de reforma e ampliação do templo. Foram três anos de obras ininterruptas em prol da edificação e do melhoramento do espaço físico da nova igreja, rematada parcialmente em 1876, beneficiando toda a população. Os senhores de engenho e as famílias de posse econômica, custearam grande parte da obra, representados nos altares laterais, tradicionalmente mantidos pelos seus sucessores. No dia do respectivo santo, a família responsável pelo altar era convocada para uma missa particular, tradição que durou longos anos e que hoje não se perpetua.
As santas missões vieram acompanhadas da influência arquitetônica européia, linhas e contornos que variam do estilo barroco ao toscano. São inúmeros elementos que exibem com precisão o mesclado dos estilos artísticos aplicados nas reconstruções, herança direta dos missionários que relacionavam o religioso atrelado ao social. O detalhamento das colunas e cornijas, nave única e capela-mor sobre aprofundamento, são evidências do neoclassicismo, movimento que influenciou a arte e a cultura ocidental até meados do século XIX, rebuscando a antiguidade clássica numa perspectiva de renovação expressiva, atingindo seu ápice por volta de 1830.
A estadia dos missionários em Bom Jardim provavelmente aconteceu da seguinte forma: Frei Cassiano, muito requisitado em inúmeras províncias do nordeste brasileiro, esteve no município no início e após conclusão das obras de melhoramento da igreja matriz, onde confiou o cumprimento da planta (das particularidades arquitetônicas na projeção do edifício) ao Frei Caetano de Messina.
“Fr. Caetano de Messina, depois de ter missionado com maior proveito em Pau d’Alho, Tracunhaém, Alagado do Carmo, Limoeiro, Bom Jardim, Nazaré e Palma. Entre os inúmeros bens, que com auxílio da palavra divina promoveu o zeloso ministro do senhor, devemos comemorar a realização de trezentos casamentos de concubinatos, e muitas reconciliações de inimigos mais ou menos figadais.” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2002)
A população embalada ao ritmo dos capuchinhos acompanhava apreensiva, aguardando a conclusão daquilo que seria o símbolo da religiosidade local. Era algo totalmente inovador, que posteriormente seria destino de peregrinações de fiéis de toda região, envaidecidos e embasbacados pela grandiosidade e requinte da obra. Tornando o catolicismo cada vez mais sólido nas entranhas culturais do povo, que manifestava com fervor sua credulidade.
Trechos do Artigo: “Santas Missões: A Obra Missionária dos Capuchinhos em Bom Jardim Pernambuco.” Autoria: Bruno Barbosa de Araújo
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