Há pouco, a Igreja encerrou o Tempo Pascal. Foram cinquenta dias de celebração do mistério central da vida de Jesus, fonte de testemunho da presença do Cristo ressuscitado, de onde os cristãos podem beber as forças necessárias para sua presença no mundo, chamados que foram a transformá-lo a partir de dentro.
Três grandes celebrações desdobram diante do olhar da fé a mesma riqueza da vida cristã, com a qual a Igreja forma a todos nós fiéis, a saber, a Solenidade da Santíssima Trindade, Corpus Christi e a Festa do Sagrado Coração de Jesus. Comunhão de vida na Trindade, Sacrifício de Cristo que se renova e a verdadeira humanidade do Verbo de Deus que se encarnou. A oração litúrgica da Igreja demonstra a fé professada e proporciona a educação para o crescimento da mesma fé. Tudo nos permite aclamar que "esta é a nossa fé, que da Igreja recebemos e sinceramente professamos, razão de nossa alegria, em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Cf. Ritual do Batismo).
Ao celebrar, nestes dias, a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, a Igreja quer recolher a riqueza de sua vida eucarística e oferecer, com maior abundância, a riqueza do Pão da vida para a vida de todos. "Pela força do Espírito Santo, dais vida e santidade a todas as coisas e não cessais de reunir um povo, para que vos ofereça em toda parte, do nascer ao pôr do sol, um sacrifício perfeito" (Oração Eucarística III). Assim proclama a Igreja numa de suas orações eucarísticas. O único sacrifício de Cristo se faz presente e se renova onde quer que se celebre a Santa Missa, desde a mais solene das liturgias até a mais simples das capelas, onde o mesmo altar testemunha o mistério da fé.
Em toda parte, quando o pão e o vinho apresentados são consagrados no Corpo e no Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, continuamos a aclamar: "Anunciamos, Senhor, a Vossa Morte e proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus"! E o povo fiel se alimenta do próprio Cristo presente, para dali sair com o compromisso de entregar a sua própria vida pela vida verdadeira que só Jesus Cristo Salvador pode oferecer.
Ao celebrar a Eucaristia, a Igreja volta seus olhos para o Céu e, ao mesmo tempo, para o mundo. Calvário e manhã da Ressurreição estão presentes, a vinda de Jesus, no final dos tempos, antecipa-se no sacramento e os discípulos se tornam missionários, saindo da Missa para amar e servir. De forma especial, o domingo, dia da Ressurreição de Cristo, aparece como um dia a ser preparado, celebrado e prolongado na vida. Tem grande sentido um cartaz encontrado à entrada de uma capela: "Entro para orar, saio para amar"!
Ao sair da Missa dominical, brotem em cada cristão as disposições para que se celebre também uma "Missa sobre o mundo", expressão do padre Teilhard de Chardin S.J, de quem trouxemos um pequeno trecho: "Senhor, o sol acaba de iluminar, ao longe, a franja extrema do primeiro oriente. Mais uma vez, sob a toalha móvel de seus fogos, a superfície viva da terra desperta, freme, e recomeça seu espantoso trabalho. Colocarei sobre minha patena, meu Deus, a messe esperada desse novo esforço. Derramarei no meu cálice a seiva de todos os frutos que, hoje, serão esmagados. Meu cálice e minha patena são as profundezas de uma alma largamente aberta a todas as forças que, em um instante, vão elevar-se de todos os pontos do Globo e convergir para o Espírito. Que venham pois, a mim, a lembrança e a mística presença daqueles que a luz desperta para uma nova jornada!... Mais confusamente, mas todos sem exceção, aqueles cuja tropa anônima forma a massa inumerável dos vivos: aqueles que me rodeiam e me sustentam sem que eu os conheça; aqueles que vêm e aqueles que vão; sobretudo, aqueles que, na Verdade ou pormeio do Erro, no seu escritório, laboratório ou fábrica, creem no progresso das coisas e, hoje, perseguirão apaixonadamente a luz.
Quero que, nesse momento, meu ser ressoe ao murmúrio profundo dessa multidão agitada, confusa ou distinta, cuja imensidade nos espanta, desse oceano humano cujas lentas e monótonas oscilações lançam a inquietação nos corações que mais acreditam. Tudo aquilo que vai aumentar, no mundo, ao longo deste dia; tudo aquilo que vai diminuir - tudo aquilo que vai morrer também -, eis, Senhor, o que me esforço por reunir em mim para vos oferecer; eis a matéria de meu sacrifício, o único que Vós podeis desejar.. Recebei, Senhor, esta hóstia total que a criação, movida por Vossa atração, apresenta-Vos à nova aurora. Este pão, nosso esforço, não é em si, eu o sei, mais que uma degradação imensa. Este vinho, nossa dor, não é ainda, ai de mim, mais que uma dissolvente poção. Mas, no fundo dessa massa informe, colocastes - disso estou certo, porque o sinto - um irresistível e santificante desejo que nos faz a todos gritar, desde o ímpio ao fiel: "Senhor, fazei-nos um"!
A Missa dominical, bem participada, desperte a sensibilidade para tudo acolher, identificar o que é bom, oferecer a própria contribuição para superar o mal, estabelecer laços, superar conflitos, corrigir com mansidão, buscar mais o que une do que aquilo que separa as pessoas, os problemas encarados como desafios e não como ameaças, valorizar o dia a dia como o nosso tempo e a nossa grande oportunidade para viver no amor de Deus e do próximo. O espírito com que nos dispomos a agir assim seja o mesmo do altar de Cristo. Tudo seja oferecido como matéria de sacrifício. Exercite-se, para que o mundo tenha a vida que nasce do Mistério Pascal de Cristo na entrega pessoal de Sua existência. A lição do altar suscite o amor mútuo nas comunidades cristãs e nas atitudes de cada pessoa de fé. Grandes ideais, dignos da fé que professamos e queremos testemunhar!
Dom Alberto Taveira Corrêa - Canção Nova Formação / Pastoral da Comunicação da Paróquia de Sant'Ana - http://matrizdesantana.blogspot.com.br/
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