terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cristãos de aparências: a Igreja não precisa

Há um escrito do século I de compilação anônima conhecido por Didaquê, pouco difundido entre  os cristãos da atualidade, porém de grande valor histórico e teológico.  Significa “Instrução dos Apóstolos” e além da Liturgia Cristã e da Catequese, o Evangelho é recomendado nele como se vê neste trecho do primeiro capítulo:

“1Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Há uma grande diferença entre os dois. 2Este é o caminho da vida: primeiro, ame a Deus que o criou; segundo, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça ao outro aquilo que você não quer que façam a você. 3Este é o ensinamento derivado dessas palavras: bendiga aqueles que o amaldiçoam, reze por seus inimigos e jejue por aqueles que o perseguem. Ora, se você ama aqueles que o amam, que graça você merece? Os pagãos também não fazem o mesmo? Quanto a você, ame aqueles que o odeiam e assim você não terá nenhum inimigo.  4Não se deixe levar pelo instinto. Se alguém lhe bofeteia na face direita, ofereça-lhe também a outra face e assim você será perfeito.”

O sentido destas palavras é puramente evangélico. Amor, perdão e oração. Fundamentos inquestionáveis para a vivência de um cristianismo com autenticidade. Entretanto,  percebe-se continuadamente nos templos e igrejas, fiéis que insistem em praticar um cristianismo de aparências.  A religiosidade se resume a missas, terços, cultos e louvações. Muitos vêem nos ritos religiosos o caminho da vida. Estão enganados. Não existe cristianismo quando há corações repletos de ódio, rancor, falsidade e egoísmo. A incoerência de uma prática religiosa que prioriza os rituais e esquece o testemunho de vida, infelizmente passa despercebidamente nos interiores das igrejas. Não há necessidade de se recorrer à psicologia e seus métodos para descobrir que por trás de certos gestos, atos e determinadas palavras de alguns fiéis, escondem-se sentimentos de aversão  e ódio ao próximo.  É sob esta ótica que para muitos, basta a frequência a  missas e cultos para  justificar sua fé. Odiar o próximo, alimentar rancor e discórdia simplesmente por motivos políticos são aceitáveis naturalmente nas assembléias de fiéis.

São cristãos de aparências e trilham o caminho da morte a que se refere a Didaquê. São mentirosos. Neste período eleitoral, estas colocações são corroboradas por situações que expressam claramente a divisão e a desunião dentro da comunidade cristã, causadas sobretudo  por motivos partidários e com o apoio daqueles que se apresentam como “líderes”. Aos cristãos que buscam o verdadeiro caminho da vida, resta a serenidade de saber conviver com os que dissimulam e ocultam  a falsidade e o rancor em suas atitudes. Neste caminho da vida, ou vive-se a fraternidade, o amor, o perdão e a união como verdadeiros cristãos, ou renucia-se ao cristianismo adotando práticas de vida abalizadas no ódio, rancor, egoísmo e desunião. No cristianismo não existe meio termo.

“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” 1 João 4:20

Texto: Assis Rodrigues / Redação: Pastoral da Comunicação da Paróquia de Sant’Ana  http://matrizdesantana.blogspot.com.br/

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