Há um escrito do século I de compilação anônima conhecido por Didaquê, pouco
difundido entre os cristãos da atualidade, porém de grande valor histórico e
teológico. Significa “Instrução dos Apóstolos” e além da Liturgia Cristã e da
Catequese, o Evangelho é recomendado nele como se vê neste trecho do primeiro
capítulo:
“1Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Há uma grande
diferença entre os dois. 2Este é o caminho da vida: primeiro, ame a Deus que o
criou; segundo, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça ao outro aquilo que
você não quer que façam a você. 3Este é o ensinamento derivado dessas palavras:
bendiga aqueles que o amaldiçoam, reze por seus inimigos e jejue por aqueles que
o perseguem. Ora, se você ama aqueles que o amam, que graça você merece? Os
pagãos também não fazem o mesmo? Quanto a você, ame aqueles que o odeiam e assim
você não terá nenhum inimigo. 4Não se deixe levar pelo instinto. Se alguém lhe
bofeteia na face direita, ofereça-lhe também a outra face e assim você será
perfeito.”
O sentido destas palavras é puramente evangélico. Amor, perdão e oração.
Fundamentos inquestionáveis para a vivência de um cristianismo com
autenticidade. Entretanto, percebe-se continuadamente nos templos e igrejas,
fiéis que insistem em praticar um cristianismo de aparências. A religiosidade
se resume a missas, terços, cultos e louvações. Muitos vêem nos ritos religiosos
o caminho da vida. Estão enganados. Não existe cristianismo quando há corações
repletos de ódio, rancor, falsidade e egoísmo. A incoerência de uma prática
religiosa que prioriza os rituais e esquece o testemunho de vida, infelizmente
passa despercebidamente nos interiores das igrejas. Não há necessidade de se
recorrer à psicologia e seus métodos para descobrir que por trás de certos
gestos, atos e determinadas palavras de alguns fiéis, escondem-se sentimentos de
aversão e ódio ao próximo. É sob esta ótica que para muitos, basta a
frequência a missas e cultos para justificar sua fé. Odiar o próximo,
alimentar rancor e discórdia simplesmente por motivos políticos são aceitáveis
naturalmente nas assembléias de fiéis.
São cristãos de aparências e trilham o caminho da morte a que se refere a
Didaquê. São mentirosos. Neste período eleitoral, estas colocações são
corroboradas por situações que expressam claramente a divisão e a desunião
dentro da comunidade cristã, causadas sobretudo por motivos partidários e com o
apoio daqueles que se apresentam como “líderes”. Aos cristãos que buscam o
verdadeiro caminho da vida, resta a serenidade de saber conviver com os que
dissimulam e ocultam a falsidade e o rancor em suas atitudes. Neste caminho da
vida, ou vive-se a fraternidade, o amor, o perdão e a união como verdadeiros
cristãos, ou renucia-se ao cristianismo adotando práticas de vida abalizadas no
ódio, rancor, egoísmo e desunião. No cristianismo não existe meio termo.
“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não
ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” 1 João 4:20
Texto: Assis Rodrigues / Redação: Pastoral da Comunicação da Paróquia de Sant’Ana http://matrizdesantana.blogspot.com.br/
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