Jesus ia passando, quando viu um cego de nascença. Os seus discípulos lhe perguntaram: “Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?” Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus. É preciso que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. Dito isso, cuspiu no chão, fez barro com a saliva e aplicou-a nos olhos do cego. Disse-lhe então: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. Os vizinhos e os que sempre viam o cego pedindo esmola diziam: “Não é ele que ficava sentado pedindo esmola?” Uns diziam: “Sim, é ele”. Outros afirmavam: “Não é ele, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo”. Então lhe perguntaram: “Como é que se abriram os teus olhos?” Ele respondeu: “O homem chamado Jesus fez barro, aplicou nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver”. [...] Voltaram a interrogar o homem que antes era cego: “E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?” Ele respondeu: “É um profeta”. [...] Os judeus, outra vez, chamaram o que tinha sido cego e disseram-lhe: “Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é um pecador”. Ele respondeu: “Se é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo”. [...] Se esse homem não fosse de Deus, não conseguiria fazer nada”. Eles responderam-lhe: “Tu nasceste todo em pecado e nos queres dar lição?” E o expulsaram. Jesus ficou sabendo que o tinham expulsado. Quando o encontrou, perguntou-lhe: “Tu crês no Filho do Homem?” Ele respondeu: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele?” Jesus disse: “Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo”. Ele exclamou: “Eu creio, Senhor!” [...]. Jo 9,1-41
A fé batismal é iluminação
Este texto do evangelho de João pode ser caracterizado como uma catequese sobre a fé, num contexto batismal. Temática, aliás, muito apropriada para o tempo da Quaresma, pois, além de ser um itinerário penitencial, esse tempo de preparação para a Páscoa do Senhor é um convite a aprofundarmos a nossa vocação cristã a partir do Batismo. O texto, grosso modo, é a afirmação de que a fé que recebemos é iluminação. É pela fé que chegamos a contemplar e professar a verdadeira identidade de Jesus de Nazaré.
É preciso, antes de tudo, ter presente essa afirmação que está no centro do trecho do livro de Samuel: o Senhor não vê a aparência, mas o que está no coração (cf. 1Sm 16,7). O Senhor não julga à maneira dos homens. Deus não se deixa levar pela aparência. No contexto da Quaresma, e para além dela, somos convidados a desejar ver para além das aparências, e considerar o coração, o que a pessoa efetivamente é. Aí não há engano. O que transforma o nosso olhar e faz com que seja semelhante ao olhar de Deus sobre cada pessoa é a fé, que é iluminação.
No centro do evangelho de hoje está a afirmação de Jesus: “Enquanto eu estou no mundo eu sou a Luz do mundo” (v. 5). O que interessa nesse relato do cego de nascença não é propriamente a sua cura, palavra, aliás, que não figura no texto, mas o seu itinerário de fé, itinerário ao fim do qual ele chega a professar que Jesus é o Senhor (v. 38). Quando foi expulso da sinagoga, imagem dos cristãos expulsos da sinagoga, era a fé em Jesus que o sustentava. O seu itinerário é um caminho de amadurecimento da fé, que o permitiu professar a fé ao modo de Tomé no final desse mesmo quarto evangelho (Jo 20,28). Tomé passa da dúvida e da tentação de querer chegar à fé por si mesmo a uma adesão incondicional à pessoa de Jesus Cristo. O Senhor professado pelo que antes era cego não é alguém distante, mas uma pessoa que fala com ele, que entra em diálogo com ele (cf. Jo 9,35-38), aquele que lhe abriu os olhos. A mesma luz que faz o cego ver, cega os que pensam ver. É Deus, e somente Ele, que faz com que a luz brilhe nas trevas. Que o Senhor nos conceda sempre a luz da fé e, por ela, mantenha acesa em nós a chama da esperança. Que Deus nos dê a todos a graça da coragem, da audácia, do testemunho que brota e é exigido da fé em Jesus Cristo.
Carlos Alberto Contieri - Paulinas / Pastoral da Comunicação da Paróquia de Sant'Ana - http://matrizdesantana.blogspot.com.br/
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