“Ninguém pode servir a dois senhores: ou vai odiar o primeiro e amar o outro, ou aderir ao primeiro e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro! Por isso, eu vos digo: não vivais preocupados com o que comer ou beber, quanto à vossa vida; nem com o que vestir, quanto ao vosso corpo. Afinal, a vida não é mais que o alimento, e o corpo, mais que a roupa? Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste os alimenta. Será que vós não valeis mais do que eles? Quem de vós pode, com sua preocupação, acrescentar um só dia à duração de sua vida? E por que ficar tão preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo. Não trabalham, nem fiam. No entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje está aí e amanhã é lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, gente fraca de fé? Portanto, não vivais preocupados, dizendo: ‘Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?’ Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal.” Mt 6,24-34
O cristão não pode viver a sua fé na ambiguidade
No tempo do sofrimento, da perseguição, da angústia de estar longe da terra que Deus prometeu e deu aos ancestrais de Israel, o povo sente-se abandonado por seu Deus. O texto de Isaías deste domingo é resposta a esse sentimento de abandono. O sentimento do povo não corresponde à realidade de Deus e o engajamento da parte de Deus com relação à Aliança. O amor de Deus para com seu povo ultrapassa qualquer amor humano, até aquele que une a mãe ao seu filho. Deus, mesmo quando não experimentamos sensivelmente, sempre está presente e vela sobre todos nós com uma ternura inefável.
O texto do evangelho deste domingo faz parte do “sermão da montanha”. A fé em Deus implica, necessariamente, uma ética correspondente, isto é, um modo de agir e viver a existência humana que corresponda ao desígnio salvífico de Deus revelado em Jesus Cristo. O ser humano é colocado sempre, em todo tempo, diante da necessidade de decidir. No caso do cristão, em razão de seu enraizamento em Cristo, ele não pode viver a sua fé na ambiguidade, servindo a dois “senhores”, nem viver como se não cresse. A fé tem uma implicação ética e exige decisão, portanto, renúncia a tudo o que possa levar o discípulo a não assumir um comportamento condizente com as exigências da vocação cristã. Todos os bens da natureza e os que dela procedem são meios para que o ser humano possa viver em paz. A preocupação excessiva com os bens materiais se opõe à confiança devida a Deus e reivindica o lugar de Deus. O discípulo deve rejeitar tal ambiguidade e ilusão e viver a sua confiança em Deus sem deixar de usar os meios que o permita viver, assim como os seus semelhantes (cf. v. 33). É preciso fazer tudo como se tudo dependesse de nós e esperar tudo como se tudo dependesse de Deus. O apelo à confiança em Deus não é bênção ao comodismo, tampouco à passividade, mas exigência de olhar todos os aspectos da existência humana à luz dos valores do Reino de Deus. A confiança em Deus requerida do discípulo é reconhecimento de que Deus cuida de todos e de cada um particularmente. Deus conhece e vem sempre em socorro de nossa fraqueza. Confiemos no Senhor!
Carlos Alberto Contieri - Paulinas / Pastoral da Comunicação da Paróquia de Sant'Ana - http://matrizdesantana.blogspot.com.br/
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