terça-feira, 13 de setembro de 2016

Igreja e eleições

Estamos no tempo da campanha eleitoral. É um período intenso e fecundo para aprofundar e aperfeiçoar a democracia. Doravante, como eleitores, somos convocados a participar. O futuro do município onde moramos está em questão e a escolha de seu melhor caminho depende de todos. Este também é um momento em que os cidadãos se candidatam e são apresentados pelos seus partidos à sociedade. Um exaustivo trabalho se inicia, sob intenso esforço, para expor planos do governo, estratégias de ação e, especialmente, alternativas para os grandes problemas coletivos.


A Igreja acompanha e participa deste momento com muita atenção e responsabilidade. Ela se distingue do Estado e exercita o recíproco respeito à liberdade, autonomia e missão, das distintas instâncias de organização. Todavia, a política visa ao bem-comum e à justiça e, sob estas dimensões, há uma abrangência ética que atinge também o núcleo da fé cristã. Assim, ao professar comunitária e publicamente sua fé, a Igreja também testemunha seu compromisso de amor, sua intrínseca exigência de solidariedade.

Como cristãos, jamais poderíamos ficar indiferentes às condições sociais, culturais, econômicas e ambientais da sociedade e do mundo. Professar a fé é dizer sim à vida, dom de Deus, é cuidá-la com gestos pessoais e coletivos, é organizar-se para servir aos irmãos de modo planejado e abrangente.

À luz de seu compromisso ético, a Igreja no Brasil tem uma peculiar e responsabilidade social. Na história política brasileira, sua participação foi decisiva. Houve acertos e erros, hoje avaliados com cuidado devido à longa experiência. Ainda estão em nossa memória os difíceis tempos do regime militar e a importante atuação política de milhares de cristãos, dentre eles muitos bispos. A redemocratização do Brasil, porém, na década de 1980, exigiu criativos reposicionamentos.

Não bastava defender a democracia; era preciso defender a ética na política. Por isso, dentre as várias iniciativas, uma delas foi a coleta de mais de 1 milhão de assinaturas a fim de apresentar um projeto-lei que cassasse políticos envolvidos em corrupção eleitoral. É a lei 9.840. Desde então, é proibido, em troca de voto, prometer emprego, distribuir cestas básicas durante a campanha eleitoral, usar carros, prédios e funcionários públicos nas campanhas de candidatos, pagar despesas de campanha com dinheiro público. Centenas de candidatos já foram cassados por terem se envolvido em corrupções.

Essa participação política da Igreja, como vemos pela sua histórica atuação, tem possibilidades e limites, com lúcidos critérios de discernimento. Não compete à Igreja envolver-se na política partidária, nem colocar sua estrutura a serviço dos candidatos políticos, nem usar seu nome ou sua credibilidade junto ao povo para pedir votos a candidatos ou participar de campanhas eleitorais.

Os fiéis leigos podem e devem sim, assumir a vida pública e a política partidária, por especial vocação, missão e condição. Os padres, por sua vez, devem estar acima de qualquer facção ou partido político (Diretório para o ministério e a vida de presbítero, n.33) a fim de preservarem sua missão de pastores de todos, construtores da unidade e comunhão.

Também devem respeitar a orientação política dos seus fiéis e ajudá-los a crescerem responsavelmente na consciência e na participação política. Que nenhum espaço eclesial seja instrumentalizado e que nenhum presbítero se engaje na política partidária. Eis aí nossa exigente vocação e missão, como servidores do Evangelho, para a justiça e a esperança do mundo.

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