segunda-feira, 7 de maio de 2018

Ser mãe

Ser mãe é algo que corresponde a nossa natureza mais profunda como mulheres. No entanto, é necessário a vida inteira para aprendermos, por experiência, a viver este chamado. Mas a Palavra de Deus, sobretudo quando nos fala da Mãe por excelência, é luz para vivermos na alegria este caminho.


Num tempo em que a maternidade tem sido considerada de forma tão contraditória por mulheres que às vezes desejam ter filhos mais por uma afirmação pessoal do que pela disposição de doar-se sem reservas, torna-se urgente encontrar o sentido que só Deus pode dar a este imenso chamado, dirigido a toda mulher, e que cada uma pode, da forma querida por Deus, realizar. Entretanto, seria inútil ser mãe de direito, sem sê-lo de fato. Portanto, queridas irmãs, vamos refletir um pouco no que a Palavra de Deus diz a nosso respeito como mães?

Desde o Livro do Gênesis já encontramos o chamado de Deus para nós, que está implícito na ordem: “Crescei e multiplicai-vos”. Porém, como em todo chamado humano, neste também fomos atingidos pelo pecado… Ao que parece, o Demônio investe contra a maternidade desde o início, quando semeou a desconfiança no coração de Eva, a mãe dos viventes. Aquela, que desconfiara de Deus, gerou Caim que matou Abel por inveja. Estava, portanto, instalada a desconfiança no coração dos filhos daquela que desconfiou de Deus.

Mas Deus, em sua misericórdia, havia prometido que a descendência da mulher esmagaria a cabeça da Serpente, embora esta lhe ferisse o calcanhar. Nossa Senhora veio reverter esse caminho escuro e ser instrumento de Deus para nos revelar nosso papel de gerar a paz e a unidade entre nossos filhos e em toda a humanidade. E o fez à custa de uma entrega incondicional ao seu Filho e à toda a humanidade.

Lemos no Salmo 126(127) 4-5a, que “os filhos são como flechas na mão do guerreiro e feliz aquele que enche deles a sua aljava”. E São Paulo ensina na Primeira Carta a Timóteo que “a mulher será salva pela sua maternidade, contanto que persevere na fé, no amor e na santidade” (I Tim 2,15). O que significará isto para nós?

A salvação das mães passa pela entrega voluntária e gratuita da própria vida. Como vemos na Anunciação, antes de tudo é necessário deixarmos que sejam gerados em nós os filhos que Deus nos quiser conceder. Às vezes podem passar mil temores pelo nosso pensamento: “Que poderei dar de bom a este filho ou a esta filha?” Todavia, felizes devem ser os filhos que mesmo não tendo quase nada, têm a vida, porque não o impedimos de nascer. Isto vale também para os filhos espirituais.

Simplicidade

Ser mãe envolve atos tão simples, que para alguns até parecem sem valor. Mas Deus escolheu o que é vil e desprezado, a fim de que nenhuma criatura possa orgulhar-se diante dele (cf. 1Cor 1,28-29). Penso que um desses atos simples seja deixarmos que os filhos experimentem a nossa presença, não somente física, mas a nossa presença por inteiro, de coração. Às vezes chegamos a cansar os filhos com a nossa presença física, mas eles estão sempre carentes da nossa atenção, porque para eles é fácil perceber que o nosso coração está em outro lugar. Outras vezes podemos ser mães sempre presentes na vida de nossos filhos, apesar da correria da vida, pela intensidade dos momentos vividos ao lado deles de todo coração. Isto vale também para os filhos espirituais.

Algumas de nós pensam que o melhor que podemos dar aos nossos filhos são bons conselhos. Outras acham que muito importante é mostrarmos a eles um belo exemplo de perfeição. Penso que ambas as coisas sejam importantes, embora acredite não ser necessário falarmos tanto nem tão bem, nem nos mostrarmos ultraperfeitas em todas as coisas, mas que a simplicidade das nossas palavras, bem como a descoberta da nossa imperfeição diante dos filhos, sempre aponte para o Único Santo, o Único Perfeito, o Único Bom que existe. Ele sim, deve ser adorado.

Muitas vezes, a adoração dos nossos filhos a Deus começa exatamente quando somos destronadas por nossas imperfeições. Portanto, esqueçamos o desejo de ser a “rainha do lar”. Deus deve ser o Rei dos nossos filhos e Nossa Senhora a Rainha, enquanto conquistamos a confiança, o respeito e o amor dos nossos filhos na medida da confiança, do amor e do respeito que temos a Deus.

Isto nos liberta da falsa necessidade de sermos as “supermães”, e nos deixa à vontade para ser a mãe que perdoa e pede perdão sempre que necessário. A maternidade talvez seja a oportunidade maior que uma mulher pode encontrar para crescer no perdão e na sua missão de gerar a unidade e a paz no mundo. Como é difícil viver isto… Mas não impossível, porque Nossa Senhora levou a paz e a unidade na situação mais difícil de exercer o perdão: diante de seu Filho crucificado injustamente, ela acolheu e perdoou a humanidade inteira, tornando-se Mãe de todos nós.

Com Maria ao pé da cruz nós, mães, encontramos a cura de todo fechamento ao redor de nossos próprios filhos no sentido biológico, e a abertura para acolher todos aqueles que Deus nos enviar para servirmos. Se cedo compreendermos isto, talvez nem cheguemos a experimentar a atual e famosa “síndrome do ninho vazio”, que ocorre quando os filhos crescem. Ai de nós quando nos fechamos em algum ou alguns de nossos filhos, sejam estes na ordem física ou espiritual. Isto significa fechar nosso ventre, interromper o desenvolvimento do plano de Deus para a nossa vida, e experimentarmos uma espécie de morte. Como foi belo o aprendizado de Nossa Senhora nesse sentido! E começou muito cedo, quando sem se fechar na própria maternidade, levou a paz para Isabel e a serviu na sua maternidade. Mães assim, como Maria, contemplam em sua vida o sinal de Deus e realmente podem afirmar de si mesmas: “O Todo-poderoso fez grandes coisas em mim!”.

Mães que percorrem assim a estrada de Maria, jamais terão seus “ninhos” vazios, pois sempre serão mães de muitos, conforme promete Deus através do profeta Isaías: “Entoa alegre canto, ó estéril, que não deste à luz; ergue gritos de alegria, exulta, tu que não sentiste as dores de parto, porque mais numerosos são os filhos da desolada que os filhos da desposada, diz o Senhor. Dilata o espaço da tenda, as lonas das tuas moradas sejam esticadas! Não economizes nada! Alonga as tuas cordas, as tuas estacas, faze-as firmar, pois à direita e à esquerda vais transbordar: tua descendência herdará nações que povoarão as cidades desoladas” (cf. Is 54,1-3).

Portanto, não há o que temer, mãe, não há o que calcular! Não criamos filhos como se cria gado, para nos alimentar no futuro. Deus é a nossa recompensa, e se nos doamos gratuitamente, Ele mesmo cuidará de nós. Por isto, se alguma de nós sofre hoje o sentimento de ser abandonada por seus filhos, ainda é tempo para abrir o coração aos muitos filhos que Deus ainda quer gerar através de nós. Sejamos assim espiritualmente fecundas, durante toda a nossa vida!

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